Avanço da inteligência artificial dá um novo fôlego à preservação das línguas indígenas

Avanço da inteligência artificial dá um novo fôlego à preservação das línguas indígenas

Este documento analisa como a inteligência artificial (IA) está transformando os esforços de preservação das línguas indígenas no Brasil. Exploramos as ameaças que essas línguas enfrentam, o papel da tecnologia na sua revitalização, e os desafios e oportunidades que surgem com a digitalização.

A IBM, em colaboração com a USP, desenvolve e aprimora recursos voltados para a documentação, preservação e revitalização de línguas.

O projeto teve início em 2023, com a IBM e a USP desenvolvendo ferramentas de inteligência artificial para ajudar comunidades indígenas a escreverem suas línguas de forma eficiente, utilizando técnicas avançadas de processamento de linguagem natural (PLN).

A primeira iniciativa aconteceu na aldeia Tenondé Porã, situada no sul de São Paulo, através de uma parceria com uma escola secundária da região. Juntamente com estudantes e jovens falantes da língua Guarani Mbya, foram elaboradas ferramentas que apoiam a escrita desse idioma, com o objetivo de aumentar sua presença no dia a dia, na internet e nas redes sociais.

O avanço da inteligência artificial (IA) tem proporcionado inúmeras inovações em diversas áreas, e uma das mais impactantes é a preservação das línguas indígenas. Em um mundo cada vez mais globalizado, as línguas minoritárias enfrentam ameaças à sua existência. Estima-se que, das mais de 7.000 línguas faladas no mundo, cerca de 40% estejam em risco de extinção, de acordo com a UNESCO. Diante dessa realidade, a IA surge como uma ferramenta poderosa para documentar, revitalizar e promover a sobrevivência dessas línguas.

A proposta está criando e melhorando ferramentas que oferecem registro, preservação, restauração e uso dessas línguas, sempre em colaboração com os grupos nativos.

No âmbito da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) organizada pela Unesco, um projeto inovador está sendo desenvolvido por especialistas da IBM Research Brasil em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). Este projeto utiliza ferramentas de inteligência artificial com o objetivo de promover e revitalizar as línguas indígenas no Brasil.

O contexto da perda de línguas indígenas

As línguas indígenas são mais do que simples meios de comunicação; elas carregam as tradições, a história e a visão de mundo de seus povos. Quando uma língua desaparece, perde-se também um vasto conhecimento cultural, ambiental e espiritual. Os fatores que contribuem para o desaparecimento dessas línguas incluem a discriminação, a migração forçada, a urbanização e as políticas de homogeneização cultural.

No Brasil, por exemplo, mais de 180 línguas indígenas são faladas atualmente, mas muitas delas estão restritas a pequenos grupos e correm sérios riscos de desaparecimento. Em outros países, situações semelhantes são observadas. A preservação dessas línguas não é apenas um desafio para as comunidades indígenas, mas também para a humanidade como um todo.

O papel da inteligência artificial na preservação

Graças aos avanços tecnológicos, a IA tem mostrado grande potencial para a preservação das línguas indígenas. Algumas áreas específicas de atuação incluem:

Documentação

A documentação de línguas é o primeiro passo para garantir sua sobrevivência. Com o uso de IA, é possível gravar e transcrever automaticamente palavras, frases e histórias contadas por falantes nativos. Ferramentas baseadas em aprendizado de máquina conseguem identificar padrões sonoros, criar dicionários digitais e categorizar estruturas gramaticais.

Por exemplo, projetos como o Google’s Endangered Languages Project utilizam IA para coletar dados linguísticos em formato de texto, áudio e vídeo, permitindo que as línguas sejam preservadas digitalmente. Além disso, algoritmos de reconhecimento de fala facilitam a transcrição automática de gravações, agilizando o processo de documentação.

Tradução automática

A IA também tem avançado no desenvolvimento de sistemas de tradução automática para línguas indígenas. Esses sistemas permitem que falantes e não falantes se comuniquem, reduzindo barreiras linguísticas e promovendo a inclusão cultural. Embora muitas dessas línguas possuam poucos recursos digitais, técnicas como transfer learning ajudam a superar essas limitações ao utilizar dados de línguas relacionadas.

Por exemplo, a Microsoft e outras empresas estão investindo em tecnologias de tradução para línguas minoritárias, permitindo que elas sejam integradas às plataformas globais de comunicação. Essa abordagem não apenas preserva, mas também revitaliza o uso das línguas ao torná-las mais acessíveis.

Criação de conteúdo educacional

A IA possibilita a criação de materiais educativos personalizados para o ensino de línguas indígenas. Aplicativos e jogos digitais baseados em IA ajudam jovens falantes a aprender e praticar suas línguas de forma interativa. Essas ferramentas também podem ser usadas em contextos escolares para promover a alfabetização bilíngue.

Plataformas como o Duolingo, que incorporaram línguas indígenas como o navajo e o havaiano, são exemplos de como a IA pode contribuir para o ensino e aprendizado dessas línguas. Esse tipo de abordagem não apenas atrai os jovens, mas também cria um ambiente onde a língua pode florescer.

Reconhecimento de fala e síntese de voz

Tecnologias de reconhecimento de fala e síntese de voz também têm sido aplicadas para preservar e revitalizar línguas em risco. Por meio dessas tecnologias, é possível criar assistentes de voz que compreendem e respondem em línguas indígenas. Esses sistemas podem ser usados para ensinar pronúncia correta ou para facilitar a comunicação em comunidades onde as línguas nativas ainda são amplamente faladas.

Um exemplo interessante é o desenvolvimento de sintetizadores de voz para línguas como o maori e o inuíte. Esses sintetizadores não apenas reproduzem sons, mas também capturam os tons e ritmos específicos das línguas, garantindo que a representação seja autêntica.

Benefícios sociais e culturais

A preservação das línguas indígenas por meio da IA traz diversos benefícios, tanto para as comunidades indígenas quanto para a sociedade em geral. Alguns desses benefícios incluem:

  1. Fortalecimento da identidade cultural: A revitalização das línguas reforça o senso de pertencimento e identidade das comunidades indígenas, ajudando-as a manter vivas suas tradições.
  2. Acesso ao conhecimento: Muitas línguas indígenas contêm vastos conhecimentos sobre biodiversidade, medicina tradicional e ecologia. Preservá-las significa preservar esse saber ancestral.
  3. Inclusão digital: A integração das línguas indígenas em plataformas digitais promove a inclusão e a participação dessas comunidades na economia digital.
  4. Diversidade linguística: A diversidade linguística é um recurso precioso que reflete a criatividade e a diversidade da experiência humana. Preservá-la contribui para um mundo

As ameaças às línguas indígenas no Brasil

As línguas indígenas do Brasil enfrentam diversas ameaças, incluindo a perda de falantes, a assimilação cultural e a falta de reconhecimento oficial. A globalização, a urbanização e o contato com outras culturas têm levado à diminuição do uso de línguas nativas em favor do português, a língua dominante. O desaparecimento de línguas indígenas representa uma perda significativa de conhecimento, história e cultura, além de impactar a identidade e o modo de vida dos povos indígenas.

Papel da tecnologia na preservação linguística

A tecnologia tem se mostrado uma aliada crucial na luta pela preservação das línguas indígenas. Ferramentas digitais podem facilitar o registro, documentação e revitalização dessas línguas, ajudando a combater o desaparecimento cultural. A IA, em particular, oferece novas possibilidades para a preservação linguística, com recursos inovadores para a documentação, tradução e ensino de línguas indígenas.

Iniciativas de registro digital de línguas nativas

Uma das primeiras etapas para a preservação de uma língua é o registro digital de sua estrutura, vocabulário e gramática. Diversas iniciativas estão sendo implementadas com o uso de tecnologias de áudio e vídeo para capturar a fala e os costumes dos falantes indígenas. Essas gravações servem como um valioso acervo para futuras pesquisas e estudos, além de ajudar a manter viva a memória cultural dos povos indígenas.

Aplicativos de inteligência artificial para reconhecimento de fala

A IA está sendo utilizada para desenvolver aplicativos que reconhecem a fala em línguas indígenas. Esses aplicativos podem ser usados para transcrever gravações de áudio, gerar legendas para vídeos, e criar ferramentas de tradução automática. A tecnologia de reconhecimento de fala é uma ferramenta poderosa para a preservação linguística, pois facilita o acesso à informação em línguas nativas e incentiva a comunicação em língua indígena.

A digitalização oferece uma oportunidade única para a transmissão intergeracional da língua indígena. Através de plataformas online, jovens podem aprender a língua de seus ancestrais, acessando materiais didáticos e interagindo com falantes mais velhos. Essa forma de aprendizado contribui para a revitalização da língua e para a perpetuação da cultura indígena, garantindo que as próximas gerações mantenham contato com suas raízes.

Desafios da inclusão digital nas comunidades indígenas

Apesar dos avanços da tecnologia, a inclusão digital nas comunidades indígenas ainda enfrenta desafios. A falta de acesso à internet, a disparidade digital e a falta de alfabetização digital são obstáculos que precisam ser superados. É essencial garantir que os povos indígenas tenham acesso equitativo à tecnologia, para que possam participar ativamente dos esforços de preservação linguística e cultural.

Parcerias entre empresas de tecnologia e povos nativos

O sucesso da revitalização linguística depende da colaboração entre empresas de tecnologia e os povos indígenas. As empresas podem oferecer recursos e expertise para desenvolver ferramentas e aplicativos específicos para as necessidades dos povos indígenas. As comunidades indígenas, por sua vez, podem fornecer conhecimento cultural e linguístico para garantir que a tecnologia seja desenvolvida de forma responsável e eficiente.

A IA tem o potencial de transformar a revitalização linguística no Brasil. Com o desenvolvimento de novas tecnologias e o aumento do acesso à internet, as comunidades indígenas terão acesso a ferramentas e recursos para a preservação e o ensino de suas línguas. O futuro da revitalização linguística depende da capacidade de integrar a tecnologia de forma responsável e ética, respeitando as necessidades e os valores dos povos indígenas.

A inteligência artificial oferece um novo fôlego à preservação das línguas indígenas. A digitalização permite o registro, documentação e ensino dessas línguas, contribuindo para a revitalização cultural e a transmissão intergeracional do conhecimento. No entanto, é crucial garantir a inclusão digital das comunidades indígenas e promover a colaboração entre empresas de tecnologia e os povos nativos. As tecnologias emergentes podem ser ferramentas poderosas para a preservação da diversidade cultural e linguística, desde que sejam usadas de forma responsável e ética.

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