As retomadas e aldeias dos povos Ava Guarani, Guarani Kaiowá e Kaingang foram alvo de uma série de ataques entre a noite de sexta-feira (19) e o sábado (20). Indígenas foram baleados, alguns desapareceram por horas e, apesar da presença de autoridades federais, os agressores não se intimidaram, intensificando a violência contra as comunidades, que já enfrentavam investidas há pelo menos uma semana.
Os ataques contra os indígenas Avá Guarani no oeste do Paraná têm sido atribuídos a fazendeiros e seus capangas que disputam terras tradicionalmente ocupadas por esses povos. Esses conflitos são históricos na região, especialmente nas áreas de Guaíra e Terra Roxa, onde os indígenas reivindicam a demarcação de territórios que consideram tradicionais. A Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, por exemplo, foi delimitada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2018, mas ainda aguarda homologação.
Em agosto de 2024, ocorreram ataques violentos que resultaram em seis indígenas feridos, quatro dos quais precisaram ser hospitalizados, dois em estado grave. Os agressores utilizavam armas de fogo e motosserras, ameaçando cortar as cabeças dos indígenas.
A Polícia Federal está investigando esses ataques, mas até o momento não foram divulgados nomes específicos dos fazendeiros ou grupos envolvidos. A disputa por terras na região é complexa, envolvendo reivindicações indígenas por áreas alagadas durante a construção da Usina de Itaipu e reivindicações de agricultores locais que também clamam direitos sobre essas terras.
Trata-se de uma região com dez retomadas. Em 2016, foi publicado o Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCDI), destinando 50 mil hectares para a Terra Indígena Dourados Amambai Peguá I. Em reação a esse reconhecimento, opositores à demarcação perpetraram o Massacre de Caarapó. Apesar da gravidade do episódio, o processo de demarcação foi interrompido. Como resposta ao massacre, os Guarani Kaiowá iniciaram retomadas a partir da Reserva de Caarapó, onde estavam confinados.
A Força Nacional deslocou-se para a região das retomadas, mobilizando um contingente de caminhonetes. No entanto, segundo relatos indígenas, os agentes federais não registraram formalmente a ocorrência, limitando-se a anotar as placas dos veículos e identificar os presentes. O clima de tensão instaurado remete a comunidade ao padrão de violências historicamente sofridas pelo povo Guarani Kaiowá no cone sul do estado.
Quem são os responsáveis pela perseguição aos Avá Guarani em Guaíra (PR), aqueles que os chamam de “paraguaios”?
Os ataques contra os indígenas Avá Guarani na região de Guaíra, oeste do Paraná, têm sido perpetrados por fazendeiros e seus capangas, que disputam terras tradicionalmente ocupadas por esses povos. Esses agressores frequentemente se referem aos indígenas como “paraguaios”, deslegitimando sua presença na região. Em julho de 2024, o governador do Paraná, Ratinho Júnior, referiu-se aos Avá Guarani como “índios paraguaios” e afirmou que não permitiria que “invadissem” propriedades privadas no estado.
A Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, que abrange áreas nos municípios de Guaíra, Terra Roxa e Altônia, foi delimitada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2018. No entanto, a regularização fundiária ainda não foi concluída, resultando em conflitos entre indígenas e fazendeiros que ocupam a região.
Em agosto de 2024, seis indígenas foram feridos em um ataque armado realizado por fazendeiros na aldeia Tekoa Yhovy, em Guaíra. Os agressores utilizaram armas de fogo em uma ação semelhante a uma caça, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
A Polícia Federal está investigando esses ataques, mas até o momento não foram divulgados nomes específicos dos responsáveis. A situação permanece tensa, com relatos de novos ataques e ameaças contra as comunidades Avá Guarani na região.
Quais são os interesses envolvidos na disputa pela Terra Indígena Guasu Guavira, cuja demarcação está pendente desde 2018?
A disputa pela Terra Indígena Guasu Guavirá, no oeste do Paraná, envolve uma complexa sobreposição de interesses econômicos, políticos e históricos. Aqui estão os principais fatores que explicam o conflito:
1. Histórico de Ocupação Indígena e Perda Territorial
Os Avá Guarani ocupam tradicionalmente a região de Guaíra e Terra Roxa, mas suas terras foram sendo reduzidas ao longo do tempo devido a processos de colonização, expansão agropecuária e construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que inundou vastas áreas no final dos anos 1970. Muitos indígenas foram deslocados sem compensação adequada, agravando sua vulnerabilidade territorial.
2. Demarcação e Conflito com Fazendeiros
A Funai delimitou a Terra Indígena Guasu Guavirá em 2018, reconhecendo cerca de 24.000 hectares como território tradicional indígena. No entanto, a homologação ainda não ocorreu, pois fazendeiros e políticos locais contestam o processo. Muitos produtores rurais reivindicam títulos de posse e se opõem à desocupação, intensificando os conflitos.
3. Violência e Perseguição aos Indígenas
Desde que os Avá Guarani passaram a retomar partes de seu território ancestral, ataques violentos se tornaram frequentes. Há registros de invasões armadas por grupos organizados de fazendeiros e seguranças privados, que tentam expulsar os indígenas. Em 2024, seis indígenas foram feridos a tiros em um ataque, e há relatos de ameaças e agressões sistemáticas.
4. Interesses Econômicos e Lobby Ruralista
O oeste do Paraná é uma das regiões mais produtivas do agronegócio, especialmente para a soja, milho e pecuária. Fazendeiros da região, apoiados por políticos ligados ao setor, argumentam que a demarcação prejudicaria a economia local. O governador Ratinho Júnior chegou a classificar os indígenas como “paraguaios”, reforçando a narrativa ruralista de que eles não teriam direito às terras.
5. O Papel do Governo e da Justiça
A demora na homologação da terra indígena reflete a influência política dos ruralistas e a dificuldade do governo em avançar com políticas de demarcação. A Polícia Federal investiga os ataques, mas há pressão para que o Estado garanta a segurança dos indígenas e acelere o processo de regularização.
6. Impacto para os Avá Guarani
A falta de demarcação territorial coloca os Avá Guarani em situação de extrema vulnerabilidade. Sem segurança jurídica sobre suas terras, sofrem ataques, vivem sob ameaça constante e enfrentam dificuldades para manter suas práticas culturais e modos de vida tradicionais.
A disputa pela Terra Indígena Guasu Guavirá é um exemplo da luta mais ampla dos povos indígenas no Brasil contra o avanço do agronegócio e a morosidade do Estado em garantir seus direitos.