Nesta quarta- Feira (25), Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) apoiam a implementação de métodos de negociação e conciliação para resolver disputas relacionadas a conflitos territoriais entre agricultores e comunidades indígenas.
O STF alcançou um consenso para resolver a disputa fundiária relacionada à demarcação da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu, localizada em Mato Grosso do Sul.
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O caso foi gerido pelo gabinete do ministro Gilmar Mendes e se arrastava desde 2005. Recentemente, a situação se intensificou com uma série de ataques a tiros. Pelo menos dois indígenas perderam a vida.
Na visão de Gilmar, o modelo utilizado para resolver o problema foi “muito significativo”. Ele ressaltou que isso pode servir como um aprendizado institucional para abordar outras áreas que enfrentam conflitos ou disputas.
O papel do STF na mediação de conflitos territoriais
O Supremo Tribunal Federal (STF) exerce um papel crucial na mediação de conflitos territoriais, especialmente em situações que envolvem terras indígenas. A corte atua como uma instância superior que busca equilibrar os interesses de diferentes partes, sempre com o objetivo de promover a justiça e a equidade.
Além disso, o STF frequentemente toma decisões que estabelecem precedentes importantes, guiando não apenas casos futuros, mas também a política pública em relação à proteção e demarcação de terras indígenas.
Casos emblemáticos de disputas por terras indígenas
Vários casos emblemáticos passaram pelo crivo do STF, demonstrando a complexidade e a importância dessas questões. Um exemplo é o caso Raposa Serra do Sol, que envolveu a demarcação de uma grande área contínua de terra indígena em Roraima. A decisão foi histórica e reafirmou os direitos dos povos indígenas à terra.
Marco Temporal
O Marco Temporal é uma tese jurídica que trata da demarcação de terras indígenas no Brasil. De acordo com essa interpretação, os povos indígenas só teriam direito à demarcação de suas terras se estivessem na posse delas ou disputando a posse na data da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.
Apesar da decisão do tribunal, a questão do marco temporal foi aprovada pelo Congresso. A proposta que determina que os povos indígenas têm direito apenas às terras que ocupavam ou reivindicavam na data da promulgação da Constituição (5 de outubro de 1988) está em vigor desde dezembro.
Outro caso relevante é o julgamento sobre a tese do ‘marco temporal’, que define que os povos indígenas só teriam direito às terras que estivessem sob sua posse ou disputa judicial na data da promulgação da Constituição de 1988. Esse julgamento teve grande repercussão e impactou profundamente as comunidades indígenas.
Acordo histórico
Alexandre de Moraes elogiou a iniciativa de Gilmar que tornou possível esse acordo e descreveu esse passo como “histórico”. “A questão indígena é extremamente sensível”, disse ele. “Se não houver consenso, acordo, principalmente em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde há algumas terras que foram devolvidas por Dom Pedro, se não houver indenização, se não houver ideia de solução para todos Por um lado, teremos décadas com este problema.
Segundo Moraes, a experiência do acordo alcançado permitirá aos povos indígenas e agricultores compreender que “é possível sentar à mesa e chegar a um acordo para o bem de todos e para o bem do país”. Flávio Dino e o presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, seguem a mesma linha.
O primeiro chamou o acordo sobre terras indígenas de “invasão”. “Este sucesso mostra, para além das virtudes em si, talvez um modelo de sucesso onde a reconciliação faz parte do rol de possíveis soluções para os direitos fundamentais e temos este exercício dialético de construção de boas relações com as partes e com a sociedade. fora”, disse ele.
O presidente do STF saudou a iniciativa de Gilmar e defendeu a possibilidade de resolução de divergências por meio do diálogo. “Há uma ideia um pouco errada de que a lei e o processo judicial são a mesma coisa. E uma percepção crítica das ações do judiciário para evitar litígios ou resolução de disputas”, disse ele. “E nosso papel é resolver problemas, não necessariamente julgar disputas”.
Conciliação adotados pelos ministros
Os ministros do STF têm adotado uma série de métodos e estratégias para promover a conciliação. Entre eles, destaca-se a realização de audiências públicas, que permitem ouvir todas as partes envolvidas, incluindo representantes das comunidades indígenas e do governo.
O ministro afirmou que foi realizado um “trabalho hercúleo” para alcançar uma conciliação e destacou o “trabalho construtivo” do governo federal.
Além disso, a corte tem incentivado o uso de mediação e arbitragem como formas alternativas de resolução de conflitos, buscando soluções que sejam aceitáveis e justas para todas as partes.
Desafios enfrentados no processo de conciliação
Embora haja declarações públicas em defesa do modelo, as comunidades indígenas não estão totalmente unidas quanto às condições das negociações.
No final de agosto, por exemplo, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) decidiu se retirar de uma câmara de conciliação estabelecida no STF para tratar das ações referentes à lei do marco temporal.
Naquele momento, um dos principais motivos mencionados pela entidade foi o fato de que essa lei continuaria em vigor durante o processo de negociações – o que representa uma “desigualdade nas relações de negociação”.
Segundo a organização, não foram oferecidas garantias adequadas para a proteção dos indígenas nem para assegurar que um eventual acordo respeitasse a autonomia dos povos originários.
O processo de conciliação não está isento de desafios. Um dos principais é a resistência de algumas partes em aceitar decisões que consideram desfavoráveis. Além disso, a complexidade jurídica e a diversidade cultural das comunidades indígenas podem tornar a mediação ainda mais desafiadora.
Outro grande desafio é a pressão política e econômica que muitas vezes envolve esses casos, especialmente quando há interesses de grandes empresas ou do agronegócio em jogo.
Impacto das decisões do STF nas comunidades indígenas
As decisões do STF têm um impacto profundo nas comunidades indígenas. Elas podem garantir a proteção de seus territórios, assegurando o direito de viverem de acordo com suas tradições e culturas. Por outro lado, decisões desfavoráveis podem levar à perda de terras e ao deslocamento dessas comunidades, com consequências devastadoras para seus modos de vida.
É fundamental que as decisões da corte continuem a respeitar e proteger os direitos dos povos indígenas, promovendo a justiça e a conciliação de forma equilibrada e justa.